COLABORADORES
Capa Charles Hermann
Foto Alef Lucas – Aleh Fotografia
Assessoria Marcia Dornelles Comunicação
Da passarela à alta costura internacional
O estilista baiano que conquistou Paris e Milão costurando sonhos com identidade brasileira.
Com talento nato e uma sensibilidade que ultrapassa tecidos e tendências, o estilista baiano conquista reconhecimento internacional e prepara voos ainda mais altos
Ele chegou à moda por acaso, como modelo, ainda em Salvador. Desfilou para marcas como Yves Saint Laurent, cruzou bastidores com nomes como Kate Moss e logo percebeu que seu verdadeiro lugar era atrás das cortinas, onde nascem os sonhos: o ateliê. De alma artística inquieta e coração resiliente, Charles transformou sua vivência internacional em combustível para criar a Victoria Alta Costura, grife que hoje é sinônimo de sofisticação e originalidade.
Nesta entrevista exclusiva à Revista Atitude, o estilista celebra conquistas — como o convite para abrir um ateliê em Milão e a honraria inédita concedida pela Divine Academy de Paris — e revela com emoção os bastidores de uma jornada marcada por coragem, propósito e um amor visceral pela arte de vestir. Prepare-se para conhecer o criador por trás de algumas das peças mais desejadas da moda brasileira e mergulhar na mente visionária de um homem que costura não apenas tecidos, mas histórias, futuros e identidades.
Charles, sua carreira começou de forma inesperada como modelo ainda em Salvador. Como foi esse primeiro impacto com o universo da moda e o que mais te marcou nos seus primeiros anos na indústria?
Na verdade, foi tudo muito rápido. Não tive muito tempo para absorver o que de fato estaria vindo para a minha vida — simplesmente fui vivendo cada segundo. Foi tudo muito desafiador e totalmente diferente da vida real que eu conhecia. Confesso que, no início, tive muito medo de não conseguir ser o que queriam que eu fosse. Desde muito cedo, sempre fui muito responsável e comprometido com minha palavra e com meus comportamentos, mas estava disposto a aprender tudo o que estivesse ao meu alcance de forma sensata.
Você desfilou para marcas icônicas como Yves Saint Laurent e dividiu camarim com lendas como Kate Moss. Como essa vivência no topo do mundo da moda influenciou o estilista que você é hoje?
Quando fui buscado para fazer o show da Yves Saint Laurent, eu ainda não tinha ideia da grandiosidade daquilo que eu estava prestes a fazer. Não conhecia esse universo fashion, era tudo muito novo para mim. Só tomei real consciência depois que ouvi burburinhos no nosso meio sobre nomes grandes como Kate Moss, que estava ali presente. Foi então que comecei a entender que estava fazendo parte de algo realmente incrível.
De modelo a estilista: em que momento você sentiu que queria deixar as passarelas e começar a criar os próprios looks? Foi uma transição natural ou houve um ponto de virada?
Desde o meu primeiro momento em uma Maison, eu descobri que aquele universo dos bastidores era mais atrativo do que estar nas passarelas. Passei a me identificar muito mais com o processo criativo dentro do ateliê. Minha alma artística falou mais alto. Eu sabia que seria um caminho longo e desafiador, e foram anos de dedicação até que eu pudesse fazer um trabalho à altura dos que eu via e admirava.
A Victoria Alta Costura é hoje referência e veste nomes importantes no Brasil e no exterior. O que diferencia a proposta criativa da grife no universo da alta costura?
A Victoria hoje é uma residência pra mim, um local onde realmente me sinto em casa. Fiz dela o que estou fazendo comigo mesmo: buscando evoluir e ser respeitado. Esse respeito vem com solidez e muita dedicação. Hoje, me sinto casado com o ateliê — me dedico muito mais a ele do que a mim mesmo. E confesso: ainda sou profundamente apaixonado pelo meu trabalho.
Você já foi convidado pela Valentino para assistir a um desfile da primeira fila — um gesto que revela respeito e admiração internacional. Como você enxerga o reconhecimento da moda brasileira no circuito europeu?
Isso foi algo muito engraçado, porque fui convidado para uma festa por outro convidado — ou seja, eu era praticamente “penetra” na festa! Mas foi ali que conheci o diretor criativo da Valentino, e ele mesmo me convidou para o desfile. Foi realmente incrível. Me senti lisonjeado pela oportunidade e pelo reconhecimento. Foi nesse momento que percebi que os brasileiros também são muito notáveis, mesmo nos palcos mais exigentes da moda.
Sua formação em Arquitetura influencia de alguma forma o seu processo de criação como estilista? Como essas duas áreas se encontram no seu trabalho?
Sim! Toda criação depende de um projeto, seja ele arquitetônico ou de moda. Moda e arquitetura andam de mãos dadas — compartilham características e princípios na construção estética. Me sinto privilegiado por ser os dois. Isso me dá mais ferramentas e repertório para criar com estrutura, forma e emoção.
Recentemente, você foi convidado pela Divine Academy de Paris para ser condecorado como estilista brasileiro de êxito em Haute Couture — um feito inédito. O que essa honraria representa para você?
Recebi esse convite no início deste semestre e, confesso, ainda não caiu minha ficha. Acho tudo tão grandioso e imensurável. Jamais imaginei que meu trabalho me levaria a lugares tão incríveis e gigantes. Só posso agradecer a Deus todos os dias pelo talento que Ele me deu.
Com a abertura prevista do seu atelier em Milão em 2026, quais são os seus planos para essa nova fase internacional? Podemos esperar uma nova linha ou abordagem para o público europeu?
Sim! Esse sonho de ter um ateliê na Europa é um dos grandes projetos que está prestes a se realizar. Eu e minha sócia, Salma Georges, já namorávamos essa ideia há bastante tempo. Agora, ver os esboços desse sonho sendo traçados é incrível. Será algo muito europeu, sim — com identidade própria e totalmente personalizado.
Você vive um momento de concretização de sonhos. Existe algum projeto ainda guardado que você deseja realizar nos próximos anos?
Tenho muitos sonhos, e um deles é criar um projeto onde eu possa ensinar adolescentes, mulheres e homens a terem uma profissão no universo da alta costura. Quero fazer do Brasil uma referência em padrão de alta costura no mundo. Acredito na potência criativa do nosso país e quero contribuir para que ela floresça.
Para os jovens estilistas e criadores brasileiros que sonham em fazer carreira internacional, que conselho você deixaria, com base na sua própria trajetória?
Desejo a todos muita criatividade e muita resistência para dizer SIM aos próprios sonhos. Lutem contra todos que insistirem em dizer que você não é capaz ou suficiente para realizá-los. Tenham coragem de viver aquilo em que acreditam. Porque, no fim, é isso que move tudo: a fé no próprio talento.